sexta-feira, 20 de junho de 2008

Inspiração





Alberto Granada em homenagem ao Che - Rosário - Argentina - Foto: Gabi Di Bella



Semana passada viajei e por isso não atualizei o blog... a verdade é que as atividades cotidianas passaram atropelando. Fui para a Argentina, fiquei lá pouco tempo, mas aconteceu tanta coisa que a sensação é de que passou um mês! Lá vi um país confuso, perdido em meio a brigas dos mais diversos interesses e que me deixou extremamente incomodada. Entretanto, apesar da última dica ter sido argentina vou repetir o país porque o tema está em alta e acredito que nesse filme há um pouco da inspiração necessária ao momento.

No início da década de 1950 dois amigos resolveram realizar o que acreditavam que seria, na época, uma grande aventura, quase adolescente. Mal sabiam o que aquilo se tornaria. Seria histórico, seria transformado em filme, livros e inspiraria muitos a, ao menos tentar, seguir os mesmos passos. A preparação ou quanto dinheiro levavam pouco importava, o mote era a viagem. Viagem que transformou mais do que esperavam tanto a eles (Ernesto Guevara e Alberto Granado) quanto ao mundo.

Dirigido pelo brasileiro Walter Salles, Diários de Motocicleta tem diversas nacionalidades. Argentina, Cuba, Estados Unidos, Alemanha, México, Inglaterra, Chile, Peru e França. Profissionais de todos esses países se uniram para contar essa aventura que, como diria Alberto Granada: transformou Ernesto Guevara em Che. Talvez uma das poucas forças capazes de colocar os nomes de Cuba e dos EUA lado a lado, ainda que seja só em um cartaz. Pois, pensem o que pensem, tanto esquerda quanto direita, uma coisa é certa: foi histórico.

Diários tenta justamente não tomar partido. Mostra um jovem idealista e humano, com defeitos e fraquezas. Nesse ponto o filme chega até a ser certinho demais. É tudo muito exato tanto no roteiro como nas imagens. Mesmo assim, Diários não se perde, a sensibilidade das cenas fica evidente, com destaque para a interpretação de Gael García Bernal (amado, claro, pela blogueira aqui) no papel principal. Também emocionam a interpretação do simpático Rodrigo de La Serna como o companheiro de viagem, a bela fotografia de Eric Gautier e a trilha sonora, premiada com um Oscar, de Gustavo Santaolalla.


Alguns momentos são ótimos. É impossível não rir, quando os viajantes chegam no Peru e o guia, um menino da região mostra um muro que está construído de duas maneiras diferentes. A parte reta, indica ele, é construída pelos Incas, a toda torta pelos incapazes (os colonizadores). Talvez, um bom resumo do que foi a história da América Latina.

Mais que tudo, o filme traz inspiração para um momento complicado, os argentinos deveriam vê-lo novamente.

* Para quem quer inspiração e quer ouvir boa música latina que busque a trilha!
* Esquerda ou direita ainda existem?
* Alberto Granado tem hoje 85 anos, vive em Cuba, ainda viaja muito e a foto foi tirada por esta que vos fala.

Filme: Diários de Motocicleta
Direção: Walter Salles
Países:Argentina, Cuba, Estados Unidos, Alemanha, México, Inglaterra, Chile, Peru e França.
Categoria: Isto é cinema mesmo - não perca!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Quero ser astronauta!



Queria eu ver o mundo pelas lentes distorcidas de Valetin. De todas as emocionantes histórias que o cinema argentino já apresentou, mais ainda em tempos de crise, esta é umas das mais comoventes. Um menino com família mais abandonado do mundo, criado pela avó e que encontra na imaginação, brincadeiras e no carinho de vizinhos e até desconhecidos o poder para continuar sonhando. Soa brega, mas é um doce, um doce de leite da melhor qualidade, estilo argentino.

Além da qualidade de roteiro, feito para envolver o espectador pela emoção, Valentin vale pelo cenário e caracterização dos personagens. A casa dele é uma perfeita casa argentina, sim, meus caros, todas parecem um cenário. É incrível como ainda hoje existem casas lá, assim, com paredes descascadas e móveis que passaram longe de qualquer mínimo planejamento decorativo. Felicitaciones para holandesa Floris Vos, diretora de arte.

Alejandro Agresti (diretor e roteirista) construiu uma história extremamente real. Quantas pessoas não foram criadas pelos avós porque os pais não tinham estrutura emocional ou material para cuidar delas? Valentin, interpretado pelo fofo Rodrigo Noya, é abandonado quando seus pais se separam. Depois disso, o pai aparece a cada tanto para deixar algum dinheiro e dar umas broncas, mas cuidar do menino mesmo, nem pensar.

A avó interpretada por Carmem Maura, perde o marido e fica vivendo no passado, ainda conversa com ele e desabafa para Valentin todas as mazelas da vida. O tio mora em Ushuaia, cidade no extremo sul da América Latina, e aparece de tempos em tempos para visitar a família. O que rende uma maravilhosa cena, entre muitas, do tio mostrando para a família um gravador com uma fita cassete: - Ainda estou pagando as prestações, diz o tio. A tia foi excluída da família porque fugiu apaixonada por um taxista. Dela sobraram alguns discos de rock argentino, que Valentin ouve enquanto treina sua caminhada espacial. O que rende uma ótima trilha sonora, a Nasa deveria pensar a respeito!

Pra sobrviver a tudo isso só com muita imaginação. E é assim que Valentin dá um jeito. Aposto com qualquer um conhecendo um menino como ele o adotaria.

Valentin, eu também quero ser astronauta!

*Destaque para a o vizinho pianista, deprimido pelo fim de um relacionamento, interpretado por Mex Urtizberea.
* Alejandro Agresti também faz uma ponta interpretando o pai de Valentin.

Filme: Valentin
Diretor: Alejandro Agresti
País: Argentina, França, Itália, Espanha.

Categoria: Isto é cinema mesmo! - não perca

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Histórias já contadas



”I guess it's just how it goes
The stories have all been told before
if you don't char
The light won't hit your eye
And the moon won't rise
Before it's time”

Norah Jones, “The Story”


Lizzie é uma garota que sofre uma desilusão amorosa. Em meio a decepção e ao sofrimento de ver o amado com outra ela encontra conforto desabafando com o dono de um bar da periferia de uma grande cidade. Uma dia, para fugir de si mesma ela começa uma grande viagem pelos Estados Unidos e segue durante todo o caminho enviando para ele postais dos lugares por onde passa. Contado assim parece mais uma sinopse mal feita. Entretanto, a magia está em como esta história é contada, sob uma visão delicada de um diretor que consegue ver beleza até em um boteco da periferia de Nova York.

Wong Kar Wai é um diretor que acredita no amor. Mais que isso, ele é um diretor que acredita que o mundo é movido pelos amores não correspondidos. E, por isso, é fácil perceber o mundo de delicadeza que ele vê e transmite através de seus filmes. Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights) é mais um exemplo. As texturas das cenas, os cenários que complementam os personagens e o pouco que é revelado em palavras. O que me parece muito a uma versão moderna, menos complicada, mas não menos interessante, de Amor à Flor da Pele (2000).

O dono do bar, Jeremy (o belo, Jude Law), dá o ombro para a nova cliente, e mostra a ela um pote de chaves que ele tem ali. Todas foram deixadas por pessoas que sofreram desilusões iguais a dela. E ela pergunta o que aconteceu com essas pessoas? E ele: - A vida, a vida acontece... Um dia ela simplesmente não aparece, e sai a viajar, no meio do caminho encontra pessoas com problemas tão complicados ou piores que os dela. Todas histórias já contadas... Pessoas em quem confiar, pessoas em quem não confiar. Como na vida. Enquanto isso, Jeremy lê os postais e espera que ela volte. Tão confiante que sempre coloca o prato e o copo para servi-la no final da noite.

Sobre a aventura de viver ou não. Os medos dos amores, desejos e conflitos interiores, Kar Wai de novo acertou o ponto. Vá ver e confie, o filme é bom. Além disso, Norah Jones se saiu bem como atriz, surpreendente e sem muito alarde.


* Preste atenção na trilha, que é linda! Feita por Ry Cooder, como avisou o amigo Marco, e com músicas do gênio Santaolalla!
* Ainda bem que não traduziram o nome para "Minhas noites de mirtilo", acabaria com o filme.

Filme: Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights)
Diretor: Wong Kar Wai
País: Hong Kong, França, e China (longe de Hollywood)

Categoria: Isto é cinema mesmo!- não perca.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Isto também é cinema!



Inaugurando o blog, talvez tentando dar resposta a perguntas típicas que virão (mais conhecidas no mundo dominado pelo marketing por faq's, que eu particularmente odeio). Enfim, voltando ao blog frio.

A partir dessa semana começarei a colocar aqui opiniões sobre os mais variados filmes. Escolhidos sob a irrevogável condição de terem sido resultado da produção, do trabalho e do esforço de pessoas fora do circuito de Hollywood. Portanto, caminho aberto para filmes argentinos, alemães, israelenses, indianos, brasileiros, peruanos, colombianos, mexicanos, africanos e qualquer outra nacionalidade que nos permita acesso ao seu cinema via DVD ou telona!

Preconceito contra o cinemão? Longe disso. Eu adoro e o vejo sempre que posso. Simplesmente, para quê mais um blog ou site falando sobre o que todos os outros já comentam? Quer saber do mundo das estrelonas, tá toda hora ai na TV, nos sites, nos blogs. Este aqui vai abrir um espaço diferente porque - adotando o nome do festival francês -, é preciso ter um certo olhar.